Espero que tudo acabe sutilmente:
Que o céu desabe sobre a terra
E o planeta caia no vão do universo infinito.
Meio aqui, meio acolá, meio vai que vai...
Espero que tudo acabe sutilmente:
Que o céu desabe sobre a terra
E o planeta caia no vão do universo infinito.
Da Assessoria | A Exposição Virtual Coletiva Corpus Pretus reunirá virtualmente sessenta e quatro artistas (64) de Mato Grosso e outros estados brasileiros como Bahia, Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraná,São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, além de uma artista brasileira residente na Alemanha. Amostra terá obras em pinturas, fotografias, colagens, aquarelas, artes digitais, esculturas, xilogravura, técnicas mistas, performances de cantorias e poesias, que manifestam a potência criativa das raízes africanas em nossa cultura.
A plataforma virtual será lançada no Sarau de abertura nestesábado, 25de julho de 2020às 19horas (horário de Cuiabá MT) na plataforma Google Meet no seguinte link https://meet.google.com/gun-fraf-mfq. Data importante para o movimento negro, pois é comemorado "Dia de Tereza de Benguela" e "Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha".
A exposição é a primeira atividade do Centro Cultural Casa das Pretas e marca as comemorações do mês julho das pretas. A Casa das Pretas écoordenada por Paty Wolff em co-gestão colaborativa de Gilda Portella, Natália Nogueira, Isabella Ferreira, Antonieta Costa, Jackeline Silva e Juliana Segóvia. A Casa das Pretas é fruto de um sonho gestado dentro do Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (IMUNE MT) em promover e dar visibilidade principalmente a artistas negros e negras de Mato Grosso.
Com o tema"Corpus Pretus", quer ressignificar o olhar do expectador sobre os "Corpus pretus" marcados, torturados física e emocionalmente pela Diáspora Africana e período escravocrata no Brasil, que reverbera ainda nas relações sociais. "Corpus pretus"invisibilizados e sem representantes nos espaços de poder. Visões estereotipadas, que hiper sexualizam esses corpus. Enxergar "Corpus Pretus" com afeto, respeito e empatia, eis o resultado do novo olhar descolonizado. "Corpus pretus"merecedores de autoestima, dignidade e oportunidades, com suas múltiplas identidades reconhecidas.
Assinam a curadoria da exposição Paty Wolff (artista visual e geógrafa) e Gilda Portella (artista visual e historiadora).
Para Paty Wolff, "é cada vez mais necessário canais de comunicação aberto às artes criadas para artistas negros e aqueles, que subscrevem suas artes em não reafirmar o padrão excludente. Além disso, os artistas necessitam de visibilidade de suas obras, e o mundo virtual é um reinventar-se neste momento de pandemia do COVID-19".
Para Gilda Portella a exposição "permitirá ao expectador se sensibilizar com a multiplicidade afro-brasileira em vários saberes e fazeres artísticos, percebendo quão rico e múltiplo é o berço africano, formador da força do patrimônio cultural brasileiro."
A seguir, os artistas participantes: Ade Moreira, Adelina Barcelos, Airton Reis, Amanda Bambu, Ana Cacimba, Andréa Penha, Anna Maria Moura, Antônio Carlos Ferreira (Banavita), Barbra. Ilustra, Carina Valéria, Karla Mesquita, Célia Soares, Clau Costa, Cláudia Lara, Cléia Melo, Cunto Neto, Denissena, Diego Roberto de Oliveira Freitas, Dilson de Oliveira, Elaine Fogaça, Eliana Brasil, Érica Bastos, Eugênia Santana Goulart, Fred Gustavos, Helenice Faria, Isla Castro, Jacinaila Ferreira, Janaina Monteiro, Jefferson Gomes, Jenifer Costa, João Almeida, Karla Mesquita, Kênia Coqueiro, Laine Machado da Silva, Leandro Guimarães, Leandro Kelven, Leonardo Leoni, Letícia de Oliveira, Lia Amazonas, Lindalva Alves, Lourdes Duarte, Luana Soares de Souza, Luara Caiana, Lupita Amorim, Maria Fernanda Ferreira, Marta Azevedo, Meg Marinho, Miriam Venâncio, Murilo Kauê, Nhantumbo'space, Raimundo Mario Bomfim Passos, Raquel Bacelar, Raquel Silva, Regina Ortega Calazans, Rita Delamari, Rosângela Maria de Jesus, Rosylene Pinto, Sara Maria, Silvana Maris, Silvia Turina, Sônia Nigro, Sophia Cardoso, Terezinha Malaquias, Vanney Neves e Vera Paixão.
Realização
Centro Cultural Casa das Pretas
Instagram @casadaspretasmt
Por José Antônio Lemos | Preconizado nas últimas décadas pelo Urbanismo e agora contestado pela pandemia da Covid-19, o adensamento urbano foi um dos destaques em recente discussão virtual promovida pela Academia de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso – AAU/MT. Esta discussão envolvendo saúde e desenvolvimento urbano vem pelo menos desde meados do século XIX, com o avanço da Revolução Industrial e o surgimento das primeiras metrópoles, cidades medievais crescidas em tamanho e população sem quaisquer cuidados, em especial os sanitários. Deu em colapso forçando as primeiras leis urbanísticas, que, por sinal foram leis sanitárias, em Londres e Paris. Daí essas discussões não pararam mais.
A Carta de Atenas em 1933 falava em densidades entre 250 a 300 hab/ha, o que jamais chegou a ser consenso. Enquanto Frank Lloyd Wright propunha 10 hab/ha em sua Broadacre City, Le Corbusier, defendia 3.000 hab/ha em seu Plano Voisin. Cuiabá tem uma densidade urbana bruta próxima a 24 hab/ha, cerca de 1 décimo da prevista pela Carta de Atenas! Há alguns anos Cuiabá tinha quase 50 mil lotes urbanos oficiais ociosos com moradores esparsos, mas com arruamento e, possivelmente, água e energia elétrica, o mínimo exigido para se implantar um loteamento na época, pois os moradores ainda que esparsos também tem direito a eles. Tem até glebas urbanas em algumas avenidas principais. Ônibus e caminhões de lixo andando a mais, tubulações, fiações, serviços, iluminação pública desperdiçados, encarecendo operacionalmente a cidade! Impede a elevação dos padrões urbanísticos.
As cidades são como organismos vivos. Com suas peculiaridades, cada cidade é única. Cidades-tipo só existem na teoria e soluções-tipo também só podem existir na teoria como padrões de referência geral para discussões em tese, mas sua aplicação tem que ser individualizada pelo urbanista e com a ciência do Urbanismo, conforme cada caso. Por exemplo cidades com risco de terremotos tendem a ser espraiadas (México, Los Angeles). Cidades muito planas favoráveis a alagamentos, como nossas belas cidades do agronegócio, sugerem a compacidade e o consequente adensamento para redução da área de captação das chuvas.
Densidades muito baixas se referem à cidades com infraestrutura ociosa. Para estas sempre falaremos em aumentar a densidade urbana ao menos como forma de reduzir os custos operacionais da cidade. Por isto a Lei do Uso e Ocupação do Solo Urbano de Cuiabá em 1997 adotou o paradigma de "crescer para dentro", como estratégia para a ocupação de seus espaços vazios e otimização da infraestrutura existente. A mim a estratégia continua correta. Mas, adensar até quando? Até quando a curva do custo operacional da cidade cruzar com a das deseconomias ou desconfortos urbanos, dependendo do estudo de cada caso. A grande maioria das cidades brasileiras está muito longe disso e o imperativo do adensamento racional deve permanecer, acompanhado dia a dia pelos profissionais competentes. Mantidos o atual perímetro e o ritmo oficial subestimado de crescimento populacional, Cuiabá levaria cerca de 80 anos para dobrar sua densidade. Mesmo assim, ainda que lento, é melhor reduzir custos do que aumentar.
Sem esquecer a dimensão política, a cidade é um objeto técnico complexo que se transforma cotidianamente e deve ser tratada tecnicamente de forma sistemática e permanente. Espero que uma das grandes transformações trazidas pela pandemia seja a do próprio homem na sua forma de ver a cidade e o Urbanismo, sua ciência. E em especial transforme a nós próprios, arquitetos e urbanistas, para que assumamos enfim a responsabilidade de protagonistas como orientadores do cidadão na construção da cidade, sua grande casa e seu bem maior.
JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é conselheiro licenciado do CAU/MT, acadêmico da AAU e professor aposentado.